Valdenice de Oliveira Meliga, irmã dos milicianos Alan e Alex Rodrigues
Oliveira, presos na operação “Quarto Elemento” do Grupo de Atuação
Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e do Ministério Público
do Rio de Janeiro, assinou cheques de despesas da campanha em nome do
então deputado estadual e atual senador, Flávio Bolsonaro (PSL), filho
do presidente Jair Bolsonaro.
A informação foi publicada em reportagem da revista IstoÉ na edição
desta sexta-feira 22. A reportagem obteve dois cheques: um de R$ 3,5 mil
e outro no valor de R$ 5 mil. Dona de uma empresa de eventos, a Me Liga
Produções e Eventos, Valdenice era uma das pessoas a quem o filho do
presidente deu procuração, conforme documento enviado à Justiça
Eleitoral, para cumprir a tarefa. Em nota, o senador repudia as
acusações, que diz se tratarem de “ilações”. Leia a nota na íntegra
abaixo.
Valdenice é apontada pela IstoÉ como um dos elos de Flávio Bolsonaro
com milícias do Rio de Janeiro, com o suposto uso de laranjas e
expedientes na campanha para fazer retornar ao partido dinheiro do fundo
partidário. De acordo com a reportagem, um dos cheques assinados por
ela, no valor de R$ 5 mil, é destinado à empresa Alê Soluções e Eventos
Ltda, que pertence a Alessandra Cristina Ferreira de Oliveira.
O pagamento seria referente ao serviço de contabilidade das contas de
Flávio Bolsonaro. Ocorre, porém, que Alessandra era também funcionária
do gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Estado (Alerj), com
um salário de R$ 5,1 mil. Estava vinculada ao escritório da liderança do
PSL na Alerj, exercida por Flávio. E, na época da campanha eleitoral,
exercia a função de primeira tesoureira do partido.
Ainda conforme informações da Isto É, a primeira tesoureira do PSL,
ou seja, a pessoa a quem cabia destinar os recursos, fez, por meio de
sua empresa, a contabilidade de 42 campanhas eleitorais do PSL no Rio.
Ou seja: cerca de um a cada cinco postulantes a um cargo político do PSL
carioca deixou sua contabilidade aos serviços da companhia Alê
Soluções, empresa de Alessandra, tesoureira do partido. Assim, a
responsável por entregar e distribuir os recursos do partido tinha parte
do recurso de volta para as contas de uma empresa de sua
responsabilidade. Com preços abaixo da média do mercado, a companhia de
Alessandra recebeu cerca de R$ 55 mil das campanhas.
Além disso, a reportagem informa que Alessandra atuou em conjunto com
o escritório Jorge L.A. Domingues Sociedade Individual de Advocacia,
que tem como um dos sócios o advogado Gustavo Botto. Na prestação de
contas à Justiça Eleitoral, Gustavo Botto também aparece como um dos
administradores das contas de Flávio Bolsonaro. No combo que coloca
Alessandra como contadora e Botto como advogado, estiveram 36 campanhas
do PSL na última eleição. Seus serviços também variaram entre R$ 750 e
R$ 5 mil. No total, renderam ao escritório R$ 38 mil. Candidatas do PSL
ouvidas pela revista relatam que, ao final, praticamente os únicos
gastos que efetivamente fizeram em suas respectivas campanhas foram com a
empresa de Alessandra e o escritório de Botto.
Outro aspecto considerado estranho, de acordo com a revista, é que a
empresa Alê Soluções está localizada na Estrada dos Bandeirantes 11216,
na Vargem Pequena, nos registros da Receita Federal, uma área de
milícias. Para o Tribunal Regional Eleitoral, no entanto, o endereço
anotado é Avenida das Américas número 18000 sala 220 D, no Recreio dos
Bandeirantes – endereço da sede do PSL do Rio de Janeiro. Situação
semelhante acontece com o escritório Jorge L.A. Domingues Sociedade
Individual de Advocacia. Para a Receita, o endereço informado é uma casa
em Vila Valqueire. Para a Justiça Eleitoral, foi novamente a sede do
PSL do Rio. Por curiosidade, todos os endereços mencionados ficam em
Jacarepaguá, onde também mora o ex-motorista de Flávio Bolsonaro,
Fabrício Queiroz, diz a IstoÉ.
A revista apurou que, durante a campanha, a companhia Alê só
trabalhou na contabilidade dos candidatos. Entre maio de 2007 e agosto
do ano passado, a empresa emitiu 183 notas fiscais eletrônicas, conforme
os registros do número das notas concedido ao TRE. Uma média de 16
notas por ano. Somente durante a eleição foram 46 notas em 4 meses.
Notas sequenciais, o que indica o serviço exclusivo para as campanhas,
diz a reportagem. Apenas no dia do primeiro turno da eleição, 7 de
outubro, foram emitidas 18 notas fiscais entre as 21h31 e as 22h43. Uma
média de uma nota fiscal a cada 4 minutos. Houve caso de notas fiscais
emitidas em um tempo inferior a 2 minutos entre uma e outra.
Procurada pela Isto É, Alessandra Oliveira disse não enxergar
conflito ético no fato de ser ao mesmo tempo tesoureira do partido,
funcionária de Flávio Bolsonaro e ter contratado sua empresa para fazer a
contabilidade das campanhas. Gustavo Botto afirma que trabalhava de
fato na sede do partido para, segundo ele, “facilitar a administração e
resposta de eventuais comunicações processuais”, diz a revista. A
assessoria de Flávio Bolsonaro ainda não se manifestou.
Nota enviada pela equipe de Flávio Bolsonaro à imprensa
“A Revista Isto É faz uma ilação irresponsável tentando vincular o
senador Flavio Bolsonaro com candidaturas irregulares e a milícia
carioca em mais uma tentativa de denegrir a imagem do senador. Val
Meliga é tesoureira geral do PSL. Tinha como determinação legal a
obrigação de assinar cheques do partido em conjunto e jamais em nome do
atual senador.
Os supostos irmãos milicianos apontados pela revista são policiais militares.
Em relação aos serviços de prestação de contas eleitorais, não houve
qualquer direcionamento do PSL-RJ relacionado à escolha dos
profissionais de assessoria contábil e jurídica. Todas as prestações de
contas foram aprovadas, ratificando a legalidade e lisura durante o
processo eleitoral.
O senador repudia as acusações e clama por uma apuração correta, responsável e honesta dos fatos. ”
‘ARSENAL’ DE BEBIANNO CONTRA O GOVERNO BOLSONARO
A edição desta semana da revista também traz uma reportagem sobre o
“arsenal” de possíveis “bombas” que o ex-ministro da Secretaria-Geral da
Presidência, Gustavo Bebianno, estaria armazenando. De acordo com a
revista, o ministro está ressentido com Bolsonaro e começou a ameaçá-lo
antes mesmo de ser demitido do cargo.
A reportagem diz que Bebiano e a esposa, Renata Bebianno, guardam em
casa toda a documentação da campanha presidencial de Jair Bolsonaro. O
ex-ministro era o presidente do partido, o PSL, durante a corrida
eleitoral. De acordo com a revista, Bebianno também teria a listagem
completa e detalhada dos repasses de recursos do fundo eleitoral para
candidaturas do PSL.
Gustavo Bebianno
O ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência Gustavo Bebianno Foto: DIda Sampaio/Estadão
Além disso, Bebianno teria conhecimento de todos os bastidores do
julgamento de Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF) a respeito da
acusação de apologia ao estupro movida pela deputada Maria do Rosádio
(PT-RS). Bolsonaro poderia ter ficado inelegível se fosse condenado.
A revista atribui à atuação de Renata Bebianno um dos motivos para o
resultado considerado vitorioso no processo. De acordo com a reportagem,
ela já havia atuado num escritório onde também trabalha como sócia e
advogada a esposa do ministro do STF Gilmar Mendes, Guiomar Feitosa
Albuquerque Lima Mendes.
De acordo com amigos de Bebianno ouvidos pela reportagem, o
ex-ministro estaria disposto a fazer um “cessar foto”, de olho na
possibilidade de se candidatar à prefeitura do Rio em 2020.
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