Na ação, batizada de ‘radioatividade’, agentes federais cumprem mandados no Rio, Niterói, Brasília, São Paulo e Barueri
De O Globo
RIO, SÃO PAULO E BRASÍLIA – A Polícia Federal deflagrou na manhã desta terça-feira a 16ª Fase da Operação Lava-Jato, denominada “Radioatividade”. Cerca de 180 Policiais Federais cumprem 30 mandados judiciais, sendo 23 de busca e apreensão, dois de prisão temporária e cinco de condução coercitiva em Brasília, Rio de Janeiro, Niterói, São Paulo e Barueri. No Rio, cinco andares da Eletronuclear, subsidiária da Eletrobras, foram lacrados pela PF. Um dos presos é Othon Luiz Pinheiro da Silva – diretor afastado da estatal.
Segundo a PF, o foco das investigações são contratos firmados por empresas já mencionadas na Lava- Jato. Dentre outros fatos investigados, são objeto de apuração nesta fase, a formação de cartel e o prévio ajustamento de licitações nas obras de Angra 3, e o pagamento indevido de vantagens financeiras a empregados da estatal. Os presos serão trazidos para a Superintendência da Polícia Federal em Curitiba/PR onde permanecerão à disposição da Justiça Federal.
Em São Paulo, um dos mandados de busca e apreensão está sendo realizado no escritório de Ricardo Ourique Marques, diretor da Techint.
Além de Ricardo, são alvo de pedidos de busca e apreensão criminal:
Renato Ribeiro Abreu, Petronio Braz Junior, Othon Luiz Pinheiro da Silva, Maria Celia Barbosa da Silva, Flavio David Barra, Fabio Andreani Gandolfo e Eletrobras Termonuclear SA – Eletronuclear, Aratec Engenharia Consultoria e Representações, na Luiza Barbosa da Silva Bolognani e Ana Cristina da Silvia Toniolo.
AÇÃO APÓS DELAÇÃO DE DIRETOR DA CAMARGO CORRÊA
A nova operação da Polícia Federal é baseada em informações prestadas em delação premiada pelo diretor da Camargo Corrêa Dalton Avancini a respeito do pagamento de propina a políticos e fraude na licitação da montagem da terceira usina do Complexo Nuclear Almirante Álvaro Alberto, em Angra dos Reis (RJ) – mais conhecida como Angra 3.
Em depoimento prestado em março deste ano, Avancini afirmou que “havia um acordo de que o edital seria direcionado”, para que seis empresas vencessem a licitação, mediante pagamento de propina a políticos do PMDB.
O edital para a montagem da usina foi publicado em agosto de 2011 e permitiu a habilitação de apenas dois consórcios: o UNA 3 (formado pelas empresas Odebrecht, Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e UTC) e o Angra 3 (composto por Queiroz Galvão, uma subsidiária do grupo MPE e Techint).
Os consórcios concorriam por dois pacotes de serviço, sendo que um grupo não poderia ser contratado para fazer ambos os pacotes. Com a habilitação de somente dois consórcios, ficou certo que cada um deles necessariamente levaria uma obra. Somente então os grupos foram chamados a apresentar os preços.
“O filtro para direcionamento da licitação seria aplicado quando da habilitação prévia das empresas, de modo a excluir as que não estivessem nesse grupo de seis empresas”, afirmou Avancini, no depoimento.
Ao ser perguntado, pelo delegado Eduardo Mauat, por que a Eletronuclear lançou um edital de forma a privilegiar poucas empresas, Avancini respondeu que em “reuniões posteriores onde (foi) mencionado o pagamento de propinas”. Segundo ele, elas “seriam uma possível explicação quanto a esse procedimento”. Em depoimento posterior, o diretor da Camargo Corrêa apresentou o nome de executivos das empreiteiras Odebrecht e Andrade Gutierrez que teriam participado de reunião em que se discutiu o pagamento de propina ao PMDB.
O encontro teria acontecido em agosto de 2014, na sede de outra construtora, a UTC, com a presença do presidente global da Andrade Gutierrez Energia, Flavio Barra, e o Diretor Superintendente na Odebrecht Infraestrutura, Fábio Gandolfo – dos alvos da operação desta terça-feira.
Também teriam participado do encontro, além de Avancini, representantes de outras empreiteiras participantes dos consórcios vencedores para instalação e montagem de equipamentos em Angra 3.
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